terça-feira, 12 de outubro de 2010

DISCRIMINAÇÃO DAS LUTADORAS

Contarei uma passagem que aconteceu comigo.Sempre tive uma visão pragmática da vida,talvez pela ascendência alemã.Também sou fruto da miscigenação dos lusos, ou "brasileiros",como dizia minha avó alemã,e deles herdei um certo ar de ironia,alegria. Como sou de origem humilde,entendi que na vida,sobreviver já era muito importante.Cresci sem muitos recursos,estudando,ajudando em casa,enfim,uma vida comum a maioria das brasileiras.Tinha minhas vaidades,mas não era extremada,preferia dançar,fazer piadas,namorar,mas sem espírito de dondoca. Conheci o movimento sindical,no final dos anos 80,e me envolvi bastante,daí então,quase não tinha tempo para minha vaidade,era luta e luta! Casei,engravidei,e então uma colega de loja,me perguntou espantada:"Tu tá grávida?", "mas como tu tá grávida",e outras perguntas,demonstrando profundo espanto.E eu respondi de que forma tinha engravidado.Depois meditei e pensei porque ela havia se espantado com o fato de eu estar grávida.Descobri,e inicialmente fiquei chocada,depois compreendi.Segundo a idéia dela,uma mulher que lidera piquete,enfrenta os patrões,usa o microfone para defender os outros,não é uma mulher,ela deve ter problemas pessoais,e coisas do gênero.Naquela época,era difícil entender que podemos ser mulheres e guerreiras.Apesar dos poucos enfeites,e estilo despojado,distante do padrão dondoca,eu era uma mulher,com idéias,desejos e sentimentos.Hoje quando usam adjetivos pejorativos,sobre as mulheres que lutam,percebo a discriminação,de gênero,de classe,e outras,e pior usar o pensamento conservador da sociedade para desqualificar as pessoas com base nas suas opções,significa uma vilania contra os direitos humanos.Hoje,enfrento com mais facilidade alguns preconceitos,de estética,de classe,de gênero,até estou mais vaidosa,e digo sou uma dama e uma guerreira.Muito ainda temos que trilhar para alcançarmos um patamar de solidariedade e liberdade.Talvez a sociedade dos meus futuros netos alcance esta etapa.

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